Heroes of Cosplay




Quando ouvi falar da série do Sy-Fy Heroes of Cosplay fiquei de antenas no ar. Por mais que deteste reality shows, um acerca de um dos meus passatempos favoritos, tinha que ver. Já escrevi a minha primeira reacção (em inglês) num journal no meu DA (It's Just a Silly Show) onde manifestei o meu choque pelas reacções violentas de ódio que senti pela internet. Cerca de quatro semanas depois ainda defendo o meu ponto de vista.

Heroes of Cosplay é realmente apenas tolinho, altamente ensaiado e não pretende mostrar o que realmente é o cosplay para a maioria dos cosplayers. Apenas é um reality show onde só interessa o drama, com gente espampanante de preferência. Querem gente mais espampanante que os cosplayers? Só mesmo travestis. O programa foca-se essencialmente em concursos, que é apenas um lado do cosplay, o lado que uma minoria escolhe. A escolha do elenco incidiu essencialmente num grupo de pessoas que já se conheciam entre si, com graus diferentes de aptidões e de reconhecimento na comunidade americana. Pelo que deu para perceber, poderiam ter sido estas pessoas ou outras quaisquer, desde que preenchessem os requisitos para cada "personagem". Sob o filtro da montagem agressiva que nos dá muito provavelmente uma imagem errada das pessoas, então vamos a eles:

Yaya Han, a grande vedeta do programa, uma cosplayer bem conhecida (eu já a conhecia - não pelas razões certas - boobs!) que tem um negócio derivado do cosplay. No programa ela passa como a "rainha", a grande autoridade do cosplay que na maioria dos episódios é júri nos concursos. Para mim ela é boa cosplayer, tem fatos muito elaborados e bem executados, usa materiais caros, rodeia-se de bons fotógrafos e tem disponibilidade para fazer sessões de fotografia profissionais. Embirro com o facto de ela valorizar demasiado a sua identidade em detrimento de uma certa fidelidade ao design original. Um exemplo é o fato de C.C. de que prefiro muito mais a versão da cosplayer portuguesa Ureshii (na imagem).

Ricky LeCotay, cosplayer com uma vertente de construção e moldagem forte que quer vingar no meio dos efeitos especiais. Passa como a profissional dedicada e vê-se bastante a construir os fatos apesar da ajuda ocasional do namorado/marido. Achei-a boa cosplayer, em geral gostei das personagens escolhidas e o fato de Rocketeer encheu-me as medidas! Muito bem escolhido, muito fiel ao design original (da banda-desenhada) e muito bem feito.

Monika Lee, talvez a mais novinha, discípula de Yaya Han, tem jeitinho mas raramente se vê a fazer seja o que for. Passa pela "bitch" de serviço, é a única que nunca tem nada de agradável a dizer. Gostei dela como cosplayer, é bonitinha, gostei inclusive das escolhas de fatos, não gostei da atitude mas acho que tem bom potencial como cosplayer. Talvez se não perdesse tanto tempo a falar dos outros a qualidade geral melhorasse.

Viktoria Schmidt, uma cosplayer mediana. Passa como a calona de serviço que não faz nenhum, atrasa-se sempre e acha que tem potencial para ser muito boa. Detestei as escolhas dela, achei que a abordagem dela era fútil e pouco esforçada e sobrevaloriza o próprio potencial. Os fatos eram mal executados, a grande maioria do trabalho era feita pelo namorado, que era tratado como escravo para todo o serviço. Estranhamente, fora do primeiro plano do programa achei que os cosplays dela eram melhores, talvez não fossem feitos por ela.

Chloe Dykstra, apresentadora de um programa no Nerdist chamado Just Cos. É apresentada como a "newbie" que não percebe nada do assunto e que tem uma visão idealista dos concursos de cosplay. Gostei dela por duas razões, é filha de John Dykstra, um nome que conheço há mais de duas décadas por ser um dos criadores de efeitos especiais em Star Wars e não só, e pela sua atitude desprendida. Apesar de passar pela deslumbrada boazinha, vê-se que sabe o que anda a fazer e escolhe bem as personagens. Não percebi porque, depois dela ter feito o fato de Lydia Deetz a colocam a "lutar" com a máquina de costura (da Hello Kitty
) no 5º episódio. Cronologicamente não faz sentido e duvido que ela não saiba costurar.

Jessica Merizan e Holly Conrad, são uma dupla de cosplayers que também tem um negócio de "prostethics" em conjunto. São apresentadas como a equipa que se desentende sempre e depois falha por causa disso. Apesar de terem um estilo completamente diferente do meu até achei que elas funcionam bem como equipa e que os resultados, embora algo atabalhoados, são bons.

Becky Young, cosplayer mediana. É apresentada como a "underdog" com falta de amor próprio, a desgraçada que é mal tratada por todos e considerada uma parvinha chorona. Tem dificuldade com grandes adereços e insiste em fazê-los, ou mandar o colega de quarto fazê-los, mas é esforçada, desenrasca-se bem na costura e tem um bom desempenho em palco.

Jess Lagers, o único homem e claramente um adepto do steampunk, quer vingar nos concursos de cosplay. É mostrado como o artista frustrado que gasta o que tem e o que não tem para os concursos de cosplay e nunca ganha nada. A nível de adereços e grandes peças pareceu-me que o trabalho dele não é mau, mas no último programa percebe-se bem que o nível de costura dele é muito fraco, cose torto, utiliza linhas de cor contrastante onde não fica bem e faz outros erros básicos de costura.

O programa mostra um lado muito exagerado do cosplay, focando-se nos concursos, menosprezando o que eles chamam "floor cosplay", cosplays que não vão a concurso, e deixando-nos de água na boca para ver alguns cosplays com muito bom ar que passam de raspão pelo écrã. Os gráficos que nos mostravam a "transformação" dos cosplayers nas personagens eram muito manhosos, teria sido preferível não tentarem fazer um efeito-todo-especial e fazerem algo mais interessante como uma mini sessão de fotografias. Aparentemente a cenourinha dos concursos americanos são prémios em dinheiro, por cá quando muito ganha-se um vale de compras dum patrocinador qualquer ou, no caso das eliminatórias dos concursos internacionais, alojamento e viagem à borla para os concorrentes vencedores - eu acho. Não estranhei haver tanto destaque para fatos de comics ou filmes de Hollywood ou mesmo para jogos, estranhei haver tanto desprendimento no juízo de cosplays originais ou variantes "criativas" de designs existentes. Para mim cosplays originais são um contrasenso, mas não me vou alargar nisso. O certo é que ambos são colocados ao mesmo nível nos concursos americanos o que me leva a questionar os critérios de pontuação. Por cá os cosplays originais não são permitidos na maioria dos concursos. Tive alguma pena de haver poucos cosplays baseados em anime, mas era previsível. Também estranhei a maioria dos concursos não ter skit (cá são quase fundamentais), portanto apenas os fatos são avaliados. Certamente que cada convenção/concurso tem as suas regras próprias e muito mais critérios que os que nos são mostrados, mas pelo menos para isso serviu Heroes of Cosplay, para vermos o que motiva os cosplayers americanos que têm claramente um estilo diferente dos europeus e dos asiáticos.

Para exacerbar o drama, os cosplayers são mostrados a começar fatos algo elaborados nas vésperas das convenções, muito improvável, a empenharem as suas vidas pessoais e económicas pelo cosplay e a arriscarem a sua saúde em nome do espectáculo, pouco saudável. Claro que um reality show que não incluísse tudo isto seria aborrecido, mas preferia que o programa tivesse focado mais na parte da construção, e menos no drama. Talvez o tiro lhes tenha saído pela culatra, pois nos programas finais mostraram a maioria a ganhar qualquer coisa e todos muito amiguinhos num final feliz cheio de corações.

Mais depressa se apanha um mentiroso que um coxo e isso viu-se fora do écrã. O vestido do Tron de Viktoria é originalmente da designer de moda Betsey Johnson, houve várias violações de direitos de autor por parte do Sy-Fy, utilizando fotografias sem a autorização dos fotógrafos e ainda menos sem lhes pagar os direitos, alguns intervenientes sentiram a necessidades de se retratar publicamente após a emissão do programa, etc.. Isto leva-me ainda mais a questionar a seriedade com que o programa foi feito, pois em geral pareceu-me produzido muito em cima do joelho, muito no desenrasca, pouco profissional e dependendo quase inteiramente dos cosplayers para animar a coisa. Quase parecem algumas convenções em Portugal... Sendo claramente um programa barato e sem grande produção, pergunto-me se não seria preferível não o terem feito. Era para encher chouriços? Sem dúvida!

Não deixando de achar Heroes of Cosplay um programa fútil e pouco representativo do que é o cosplay para a maioria dos adeptos, acho o saldo positivo, deu para aprender uma coisinha ou duas, é interessante ver como as coisas são encaradas do outro lado do oceano e praticar o lado voyeur de cada um de nós, que aliás é o que em geral nos leva a ver reality shows. Outra coisa que deu para perceber é que o nível dos cosplayers portugueses é, em geral, mais alto que o dos americanos, o que nos falta são os meios para fazer o que eles fazem, mas o talento está cá.

Agora a questão levanta-se: será que vai haver nova temporada? Se houver, será que se mantém o elenco? Veremos...

Heroes of Cosplay

apesar de termos o canal Sy-Fy, Heroes of Cosplay só passou nos Estados Unidos...
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