TODAY’S SOUND: I AM DIVINE POR ARTHUR MENDES ROCHA

O filme de hoje é um documentário sobre um dos artistas undergrounds mais incríveis dos últimos tempos e que nos deixou cedo: “I am Divine”.

Divine é uma lenda: drag queen, performer, ator de filmes cult, cantor disco, ele deixou suas marcas na cultura pop para sempre.

Divine é a persona criada por Harris Glenn Milstead, com a ajuda de seu amigo, o diretor John Waters, que se basearam em atrizes e conceitos que envolvem androginia e muita atitude acima de tudo.

Quem nunca viu Divine atuando, se prepare: ela domina a tela, pois além de seu peso, sua presença é marcante, tendo influenciado toda uma geração de drags, artistas performáticos e até o movimento punk.

Sim, vocês querem algo mais punk do que ‘Pink Flamingos’ ou “Female Troube”?

Sim, Divine estrelou estes dois e muito mais.

Tudo começou nos seus anos de colégio, onde Glenn sofria bullying por seu peso excessivo e por não se enquadrar nos ideais de beleza ou de comportamento da época.

Isto que ele era tímido e saia com garotas, pois ainda não sabia que era gay.

Um belo dia, em um baile do colégio, ele vai vestido de mulher, tentando imitar uma de suas deusas; a atriz Elizabeth Taylor.

Foi o que bastou para a cidade ficar contra ele, inclusive seus pais, mas adquirir a amizade de pessoas como John Waters, que também morava em Baltimore e perto de sua casa.

Com Waters, Glenn se encontrou, pois podia ser quem bem entendesse, sem julgamentos, e a partir daí, começou a frequentar os clubs gays, experimentar drogas e se libertar.

O primeiro filme de Waters e Glenn foi “Eat your make-up”, no qual Glenn faz o papel de Jacqueline Kennedy, já que o filme reconstitui o assassinato do então presidente dos EUA.

O filme passou meio despercebido, pois só foi mostrado em sessões da meia-noite e tendo dificuldades de ser aceito pelo público (estamos falando de 1967).

Aos poucos, a persona de Divne ia surgindo, especialmente nos filmes seguintes: “Mondo Trasho’ (1969) e “Multiple Maniacs” (1970), no qual ela é estuprada por uma lagosta gigante.

Quando Waters e Divine foram convidados para se juntar à trupe dos Cockettes em São Francisco para algumas performances, Divine foi ganhando forma e personalidade. O maquiador e cabeleireiro do grupo, Van Smith, raspou a cabeça de Divine e assim criou o seu look característico, com as sobrancelhas bem grandes e arqueadas. Agora estava criada a estrela Divine e Glenn assumia de vez esta persona, sem medos.

Os anos em São Francisco foram ótimos para Divine, ela ia se tornando conhecida e admirada por toda a população gay local, mas ela queria mais.

1972 foi o ano que a vida de Divine mudou de vez, com o lançamento de seu novo filme com John Waters: “Pink Flamingos”, clássico absoluto das midnight sessions (as sessões da meia-noite que mostravam filmes cults e bizarros). Abaixo um mini-documentário sobre o filme:

No filme, ela está um arraso como Babs Johnson, a mulher que entra em competição para ser “the filthiest person alive” (a pessoa mais nojenta do mundo).

Outros amigos de Waters também participam como Mink Stole, Mary Vivian Pearce (ambas presentes no documentário), além de seu grande amigo David Lochary e também a incrível Edith Massey (que faz a Egg lady), os dois últimos já falecidos.

Waters precisava encerra o filme de maneira estarrecedora, até que teve a ideia de que Divine deveria comer cocô de cachorro. Ela o fez e assim esta sua performance tornou-se histórica.

Quando o filme estreou, todos queriam conhecer Divine, incluindo celebridades como Mick Jagger, Andy Warhol, entre outras, ela se sentia agora parte do mundo artístico.

Mesmo assim, Divine continuava no circuito underground, já que ainda era considerada muito ultrajante para os círculos hollywoodianos.

Seu filme seguinte talvez ainda seja mais punk: ‘Female Trouble”, este sim o filme preferido de Waters e no qual a performance de Divine é digno de um prêmio: ela é Dawn Davenport, a rebelde adolescente que enfrenta seus pais (baseado em sua próprias experiências), derrubando uma árvore de Natal em sua mãe que não lhe havia presenteado com que ela havia pedido.

Dawn é apadrinhada por um casal, os Dashers (Locary e Pearce), que só quer se aproveitar dela, convencedo-a de que, quando mais ela matasse, mais linda ficaria. Assim, a jornada de Dawn é contada da maneira mais bizarra possível, até que ela é condenada a cadeira elétrica.

Sua imagem com o rosto coberto de ácido e com o corte moicano que utiliza no filme, acabou por estampar camisetas dos punks, que admiravam sua figura chocante.

Mas Divine queria ser reconhecida pelos seus talentos verdadeiros de atriz e resolve se mudar para NY, onde faz duas peças de teatro underground: ‘Women behind bars’ e “The Neon Woman”, ambas com ótima recepção de público.

Agora sim, Divine entra para o rol das celebridades com que tanto sonhou, passando a frequentar lugares glamourosos como o Studio 54.

O documentário nos conta todas estas historias da vida de Divine com vídeos, imagens raras, além de depoimentos de pessoas que conviveram com ela como Waters, o fotógrafo Greg Gorman (que a clicou várias vezes, como na foto abaixo), sua mãe (que deu seu depoimento alguns meses antes de falecer), entre outros.

Nos anos 80, Divine também resolve seguir as dicas de seu empresário Bernard Jay e se lança como disco diva, gravando singles, álbuns, além de excursionar por vários clubs ao redor do mundo (isto já mereceu um post nosso, falando somente da carreira musical de Divine).

Estas viagens e este ritmo intenso de apresentações deixarão uma conta cara na saúde de Divine, ainda mais por conta de eu excesso de peso, que só aumentava com o passar dos anos.

O próximo filme dela com Waters é ‘Polyester”, no qual o diretor lança uma nova forma de assistir a um filme: o Odorama. Este sistema era um cartela com números que o público recebia ao ingressar no filme e, que ao ser raspada, tinha o cheiro da situação que estava acontecendo na tela.

Este foi um dos melhores papéis de Divine, o filme é uma delícia de ver, muito engraçado e ela no papel de Francine Fishpawn está super Liz Taylor.

E atuando ao lado dela está o famoso galã dos filmes dos anos 50, Troy Donahue, que aceitou o convite de Waters e teve uma ótima química com Divine (ele também esta no doc).

Troy e Divine ainda irão atuar em outro filme, “Lust in the Dust’, uma paródia aos spaguetti-western, dirigido por Paul Bartel em 1985.

Ainda em 1985, ele irá fazer um de seus únicos papéis masculinos no filme “Trouble in Mind” de Alan Rudolph, tipo de papel que ele sonhava em fazer, para ser reconhecido como algo além da travesti escandalosa e que a todos chocava.

Em 1988, Divine fará ainda mais um filme com Waters: “Hairspray”, talvez o filme mais mainstream dele, já que virou musical da Broadway e ganhou uma nova versão para o cinema (com John Travolta no papel feito por Divine).

No filme ele atua ao lado de Ricki Lake, que vive o papel de sua filha e para a qual, durante as filmagens, dá vários conselhos. Na verdade, Divine gostaria de viver o papel de Ricki, mas sua idade já não o permitia.

Nesta época, ele convida seus pais para a estreia mundial do filme em Baltimore e faz as pazes com eles, fato que fará muito bem á Divine, que estava em sua melhor fase em teros pessoais e profissionais.

Divine ainda lutava para ser aceita como um “character actor” masculino e finalmente recebe a proposta de ter um papel fixo (e masculino) na série “Married with children”.

Porém, o destino não quis: um dia antes das filmagens, Divine estuda o roteiro e durante seu sono, sofre um ataque cardíaco fulminante, em 1988, aos 42 anos de idade.

Assim, o mundo perdia uma grande figura, um artista de primeira linha, divertido, carismático, inovador e que será para sempre lembrado como DIVINE!

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