O príncipe encantado é a família que todos gostaríamos de ter



(*) Uma reflexão de como o filme Frozen se encaixa nos contos de fadas modernos. Contém spoilers do filme.

Acrescente o gato e o papagaio, porque o novo príncipe encantado é a família que todos gostaríamos de ter. Sem spoilers ou prévia do próximo capítulo: em uma sociedade cujos valores éticos e morais (no campo social ou sozinho dentro de quatro paredes) são amplamente questionados, queremos menos príncipes em cavalo branco e mais autossuficiência. Talvez a noção de amor verdadeiro esteja mesmo mudando...
As princesas da atualidade não são frágeis, indefesas e dependentes do amor pelo príncipe: estão mais para guerreiras, ‘Fionas’ (que, por acaso, é sim uma princesa e tanto, mas autenticamente diferente das clássicas ‘Disneys’ que vemos por aí) e donas de si.
Eu notei quando parei a minha noite de sábado gelado para assistir a congelante animação Frozen. Eu poderia ter ficado fria pra caramba, devido às circunstâncias, mas, ao invés disso, ganhei pensamentos acalorados. ‘Tem alguma coisa mudando aqui’. É que, antes disso, eu havia assistido ‘Malévola’ com a belíssima Angelina Jolie. E antes de mim, ao que parece, um monte de gente deve ter apostado no (inevitável?) desvio de rota: o caminho para a satisfação pessoal (e, posteriormente, o valor da família).
‘Frozen – Uma aventura congelante’ é uma animação da Disney que, neste ano, venceu na categoria de Melhor Filme de Animação nos Prêmios Globo de Ouro de 2014, e ganhou o Oscar de Melhor Filme de Animação e Melhor Canção Original. Let it go.
Na trama, Elsa, filha mais velha do rei e da rainha de Arendelle, possui poderes mágicos. Desde que nasceu, a princesa detém a capacidade de fazer neve ou gelo ao menor toque e gesto. O descontrole da tal habilidade a faz permanecer reclusa (em seu quarto) durante anos, separando-se de sua irmã Anna, dentro do mesmo castelo (‘Você quer brincar na neve?’). Quando os pais das moças falecem, Elsa ganha uma festa de coroação e, junto dela, uma fria mazela. Por descuido, acaba condenando o reino de Arendelle a um inverno eterno.
Anna, a mais nova, é uma jovem inocente e otimista. Elsa, a que se torna rainha, é mais fria e racional. Juntas, formam as figuras de mulheres independentes e bem entendidas dos contos modernos: a vida nossa de cada dia. As trapalhadas de Anna reforçam, em nós, a ideia de escolher, projetar e planejar o futuro criticamente (principalmente ao que diz respeito ao coração), enquanto Elsa nos traz um monte de ensinamentos (pouco gelados e, no entanto, muitíssimo válidos).
Essa última personagem carrega o poder que a diferencia dos demais - condição que acaba por se tornar ‘um fardo’ baseado em três aspectos que se amarram à autoestima: o medo, o controle e a segurança. Sabendo lidar com as ‘coisas da cabeça’, que são mais fáceis, dá para proteger o coração, ela mais tarde entenderia. O coração é sempre mais difícil.
Entretanto, em meio aos males, Elsa torna-se livre no auge do medo e do descontrole (se uma porta se fecha aqui... Você deve imaginar o resto). A sua pretensão, no caso, é tornar-se ‘forte’ e guerreira o bastante para aceitar a si mesma (e a sua condição ‘natural’: o tal poder). A felicidade não está no príncipe: está na capacidade de poder governar o seu próprio nariz e, mais tarde, resgatar alguns valores que ficaram para trás. A família. Um grande amor, afinal, é mera consequência. E dádiva.
Alguns empurrõezinhos surgem adiante: o descontraído Olaf, um boneco de neve criado por Elsa, ajuda a entender o conceito de amor e a necessidade de se prender a valores concretos que representam mais segurança do que o ‘final feliz’ junto ao bonitão em cima do cavalo branco.

Para quem assiste ‘Frozen’, fica - talvez um dos maiores ensinamentos - o necessário para buscar, ao longo da vida, a chance de encontrar o amor verdadeiro: ‘Amar é colocar a necessidade do outro na frente da sua’. Eu arriscaria dizer que satisfação pessoal, liberdade e segurança caminham lado a lado para transformar o eterno inverno em calorosa união familiar. E, se você acha que eu não curto clichês, espere até chegar a conclusão de que, mesmo sem sapatinho de cristal ou fadas madrinhas, dependemos do óbvio para ter uma vida pé no chão. ‘Só o amor é capaz de aquecer os corações’.




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