Castelos de Areia


ROMANCE CONTEMPORÂNEO
Jane não sabia mais há quantos dias ela e Nick — até então um desconhecido — estavam perdidos naquela ilha deserta, vivendo como Adão e Eva no paraíso. Era um tormento, nas longas horas da noite, não ceder à tentação de entregar-se aos braços de Nick, pedindo-lhe que a estreitasse com força e lhe desse coragem para continuar. Mas Nick, o maravilhoso companheiro que ela aprendeu a conhecer e a amar, tinha deixado bem claro que, para ele, o casamento era o pior obstáculo entre o homem e a felicidade. Jane não podia ceder, não podia confiar em Nick. Que seria deles se não fossem socorridos imediatamente?

Capítulo Um
A viagem fora maravilhosa. A mais emocionante de todas, para falar a verdade, se bem que a aventura tivesse seus riscos. Agora a festa terminara. Estava na hora de voltar para casa. Casa... Jane repetiu mentalmente a palavra e seus olhos azuis se turvaram momentaneamente, assaltados por uma nostalgia súbita e inesperada. Pela primeira vez ela não se arrependia de voltar para casa... desta vez para sempre. Encolheu-se para evitar o contato da blusa úmida na pele quente e pegajosa e sorriu consigo mesma. Estava ficando velha, pelo jeito. Era só o que faltava! Sentir saudade do clima frio e úmido de Londres no inverno, da neblina desagradável que dificultava a respiração, do vento gelado que soprava do Tamisa. — É o paraíso, não é mesmo? — perguntou Sam ao seu lado. — Humm... Jane despertou contrariada do devaneio que durava alguns minutos e voltou a prestar atenção na realidade que tinha diante dos olhos. Deu um sorriso. Talvez a ilha fosse realmente um paraíso... a vista deslumbrante do mar muito azul quebrando indolentemente na praia de areias brancas, o bosque de coqueiros e palmeiras com suas folhagens verde-escuras. Tinha visto tantas paisagens semelhantes nas últimas semanas que não se impressionava mais como nos primeiros dias. Da mesma forma que o sol quente, luminoso, ofuscante, tornara-se algo banal. Bastava abrir a janela para ele invadir seu quarto, sem pedir licença! Sim, talvez a ilha fosse um paraíso antes de ter sido descoberta pelo marinheiro holandês que anotou sua posição correta no mapa e batizou-a com o nome evocativo de Paraíso. Jane, contudo, não desejava permanecer mais um dia ali. Estava exausta de viajar. — Vou lhe oferecer algo especial — disse Sam, o dono do bar, levantando-se da cadeira. — É um brinde da casa. Guardei essa caixa com muito carinho para as ocasiões especiais. Você vai ver se estou exagerando. — Não me diga que é um desses runs que queimam a goela da gente! Jane deu um sorriso para Sam e voltou a contemplar a paisagem que avistava pela janela aberta. Ela estava contente consigo mesma porque realizara um dos melhores trabalhos fotográficos de sua vida nessa última viagem pelo Oriente. Sentia-se bem com todo mundo, em paz consigo mesma e podia apreciar indolentemente o prazer de estar hospedada numa casa à beira-mar, constantemente ventilada pela brisa marinha que trazia o odor acre da maresia, em qualquer hora do dia ou da noite. Esse aroma era uma lembrança permanente de que estava de férias. Sam voltou pouco depois com dois copos e uma garrafa e colocou tudo em cima da mesa. Após servir a bebida dourada, bateu o copo contra o dela num gesto carinhoso e lhe desejou tudo de bom na viagem de volta. — Para você também, Sam, e muito obrigada por tudo. — Jane levou o copo aos lábios e bebeu um gole comprido. Fazia muito tempo que não bebia um amarelo tão gostoso. Arregalou os olhos de repente. — Escute, o que você misturou nessa bebida, Sam?


  • Love
  • Save
    Add a blog to Bloglovin’
    Enter the full blog address (e.g. https://www.fashionsquad.com)
    We're working on your request. This will take just a minute...