Dica de Livro | O Último Judeu – Uma história de terror na inquisição

Esse livro foi uma indicação por tabela. Um anestesista que trabalha comigo indicou O Físico, de Noah Gordon, tempos atrás e recomendou muito a leitura, dizendo que era maravilhoso, muito bem escrito e com uma história bárbara sobre a origem medicina.

O tempo passou e eu quase esqueci da indicação – não por mal ou por desinteresse, mas porque haviam muitos outros livros na frente.

O fato é que quando lembrei logo pedi pelo Skoob e aproveitando uns créditos de troca, dei uma espiada nas outras obras do escritor. Encontrei esse livro sobre o qual escrevo hoje: O último judeu – Uma história de terror na inquisição, de Noah Gordon.

“Contaria as fábulas, as histórias de tios e avós que a criança nunca ia conhecer, falaria de magníficos objetos sagrados, de um homem cujas mãos e cérebro tiravam maravilhas do metal e de uma rosa de ouro com caule de prata. Histórias de um tempo que fora melhor e de uma família que não existia mais, de um mundo que desaparecera. Depois disso (…) ficava tudo nas mãos de Deus.”

Tenho sentido muita curiosidade e vontade de aprender mais sobre os judeus, sobre seus costumes, seus rituais e toda a história que envolve essa religião e o que históricamente envolve-os, assim o título veio muito a calhar.

Resumindo, deixei O Físico na estante – e lá ele permanece até hoje – e devorei esse que acabei considerando “um livro pra ler várias vezes na vida”. Pois é, acompanhem…

Sinopse:

No ano de 1492, a Inquisição domina a Espanha com mãos de ferro. Centenas de milhares de judeus são expulsos e obrigados a fugir para não serem queimados na fogueira. O terror e a delação estão na ordem do dia e as mortes são inevitáveis. Neste clima de pânico, Yonah Toledano, um garoto de treze anos, filhos de um ourives judeu assassinado, se recusa à conversão e foge pelo interior da Espanha para não ser morto.

A história se passa na Espanha, em Toledo, no ano de 1942. Data marcante na história mundial: chegada de Colombo à America, a Reconquista, queda de Granada, Inquisição (dêem uma pesquisada no Google ou no Wikipédia). Depois dos muçulmanos, chega a vez dos judeus ajustarem suas contas com a Igreja Católica e a Coroa – seja pela conversão ou pela saída forçada deles da Espanha. Os judeus tem seus dias contados ali.

A partir dessa introdução, Yonah HelkiasToledano (personagem central) vai passar por maus bocados, vai viver momentos de extrema tristeza e dificuldade, enfrentará católicos perigosos, ameaças à sua vida e a suas crenças e tentará manter a todo custo sua fé no judaísmo, única herança que seu pai deixou.

Esse livro me tocou muito pelo horror que foi o período da Inquisição, pela intolerância e ganância da Igreja Católica, por todas as atrocidades feitas com judeus que não aceitaram a conversão e não tiveram tempo nem jeito de sair da Espanha. É um livro denso, delicado, com uma história bem costurada, uma narrativa fluída e riquíssima em detalhes. Vocês sabem bem o quanto é difícil manter a linearidade de uma narrativa, de encontrar um escritor que não se perde na história ou a torna cansativa à nossa leitura, e Gordon é incrível, consegue reunir todos esses adjetivos em uma única obra.

Eu não tenho muito conhecimento sobre o judaísmo, não mais do que lemos ou estudamos nos tempos de escola.

Nesse livro, o último judeu – no personagem de Yonah – é filho de um ourives talentoso e muito requisitado que se vê perdido, depois da morte misteriosa de seu irmão durante a entrega de uma encomenda caríssima (em todos os sentidos) de uma relíquia feita pelo seu pai e consequentemente a morte do próprio pai dentro de casa, numa das “caçadas” aos não convertidos.

Assim, com sua família morta por católicos corruptos e inquisidores espanhóis suspeitíssimos e com um prazo muito curto para ou se converter ao catolicismo ou sair da cidade, Yonah vai desbravar os arredores da Espanha, longe da sua cidade de origem. A única lembrança que restou da sua família é justamente a religião e seus costumes.

Assim ele fica vagando e fugindo dos inquisidores de todas as maneiras possíveis. Sem perspectiva, sem amigos, sem emprego, ele arruma um burro que batiza de Moisés e sai pelas estradas, passa por fazendas de todo tipo, tenta emprego em algumas cidades próximas, adota o nome de Ramón Callicó e despista como pode sua religião para poder sobreviver!

Consegue alguns trabalhos como aprendiz de ourives, peão de fazenda, pastor de ovelhas, aprendiz de armeiro e marujo entre outras atividades até que encontra um senhor já em idade avançada, médico bastante conhecido e requisitado na região, que conta com uma senhora para ajudar com os afazeres domésticos mas não tem quem cuide de suas terras. Esse médico lhe confia inicialmente trabalho como peão, oportunidade que Yonah aceita de muito bom grado, inclusive colaborando em outras atividades e aos poucos aproximando-se e ganhando simpatia daquele senhor.

Em pouco tempo Yonah (ainda na pele de Callicó) se torna um aprendiz de médico, passa a estudar incansavelmente anatomia, inclusive eles tem um laboratório escondido onde estudam em cadáveres – o que era terminantemente proibido na época. Descobrem coisas em comum, inclusive a religião que precisa ser o tempo todo escondida, disfarçada. Yonah aprende anatomia, aprende a traduzir grandes livros de medicina do hebraico para o espanhol e vice-versa, se torna um grande médico e cristão-novo, casa-se, constrói finalmente uma vida digna, retomando cautelosamente alguns rituais e descobre tesouros que vão transformar sua vida. Mas não seu caráter.

Um livro com uma história tão impressionante e ao mesmo tempo me questiono como existiu esse tempo, o quanto as pessoas sofreram com perdas, separações, arrancadas de suas famílias e de suas crenças por imposição de uma igreja intolerante e corrupta (como falei antes), injusta e intransigente. Um menino que vê tudo ruir a sua volta, vê pai e irmão morrerem sem poder fazer nada, se esconder e tentar se virar de todas as formas possíveis e mantendo seu caráter íntegro até nos momentos mais complicados da sua jornada e ainda assim conseguir manter sua crença e resgatar seus valores, com certeza um livro que merece ser lido e relido, uma história que merece ser valorizada e lembrada pra sempre.

Um adendo: tenho muita curiosidade de saber como vivem hoje os judeus, as lembranças que guardam, as tristezas e as alegrias, as histórias que ouvem de seus avós e pais e como fazem para manter viva uma religião tão pouco falada atualmente, pelo menos em termos gerais, quase não se ouve falar deles. Será que alguns ainda mantém seus rituais, com tanta influência de outras religiões, tantas interferências políticas, tantas guerras marcadas pela história deles. Sei que existem muitos que se denominam judeus, mas o quanto são religiosos e seguem o judaísmo como religião é algo que gostaria de saber.

O fato de não ter em nenhum momento ouvido o outro lado da história ou uma explicação plausível para essas atrocidades, fico com a imagem de que os judeus realmente foram um povo massacrado e só alguns poucos conseguiram sobreviver e se reerguer, nesse sentido o livro nos deixa, depois de todo o horror, uma bonita história para lembrar.

Recomendo pra quem acabou de ler algo mais leve e gosta de ficção misturada com eventos e fatos históricos. Assim como andou recomendando a Natália, do 360 Meridianos, aqui.

E não é pra provocar vocês a lerem, mas o final é impressionante, emocionante e muito bonito. Os outros detalhes deixo pra vocês descobrirem.

E se alguém já leu esse ou outros livros de Noah Gordon, me conta o que achou! Estou já com O Físico me esperando na prateleira.

Livro: O ÚLTIMO JUDEU – Uma história de terror na Inquisição
Autor: Noah Gordon
Classificação: Ficção Norte-Americana
Editora: Rocco
Tradutor: Mario Molina

Beijos,

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