TODAY’S SOUND: JULIETTE GRÉCO POR ARTHUR MENDES ROCHA

Juliette Gréco foi considerada a musa do existencialismo, frequentadora da boêmia parisiense, ela fez sucesso como cantora e também como atriz, além de viver um romance com Miles Davis.

Gréco é um símbolo cool da França, ditando moda e comportamento, através de suas atitudes liberais, suas densas canções e seu jeito de ser.

Nascida em Montpellier, cidade do sul da França, ela esteve envolvida desde cedo com a Resistência (movimento dos franceses que eram contra a invasão nazista), já que seu pai era membro ativo deste movimento.

Inclusive, ela foi presa pelos nazistas aos dezesseis anos, mas logo foi libertada, pois era menor de idade.

Quando retornou da prisão, ela não tinha para onde ir, até que foi para a casa de uma amiga de sua mãe, que vivia em um pequeno hotel.

Sem roupas, ela se vestia graças a doação de amigos, ao mesmo tempo lançando moda, já que usava roupas maiores que ela e as dobrava.

Ao se mudar para Saint-German-de-Prés em 1946, ela vai chamando atenção por sua figura e estilo.

Ela acaba por se tornar uma figura da boêmia francesa, frequentando os bares onde os intelectuais discutiam filosofia e onde Jean- Paul Sartre se destacava com suas obras existencialistas.

Sartre ficou tão encantado com Gréco que dizia que ela possuía “milhões de poemas em sua voz’ e chegou até a escrever canções para ela.

Com seu jeito meio beatnik, franjas e cabelos compridos, roupas “oversized”, além de usar muito preto, bem como abusando do lápis preto nas sobrancelhas e delineador olhos, ela vai ficando conhecida pelos artistas e chamando atenção por seu look.

Fotógrafos como Cartier-Bresson e Robert Doisneau (dois dos maiores expoentes da fotografia francesa) não se cansavam de clicá-la.

Ela podia ser encontrada em cafés como o Le Tabou, onde ficava até altas horas em discussões, bate-papos, ficando amiga de figuras como Jean Cocteau, Boris Vian (que escreveu músicas para ela), Serge Gainsbourg, entre outros.

Além deles, Gréco conheceu os jazzistas Charlie Parker, Dizzy Gillespie, o Modern Jazz Quartet e Miles Davis.

Gréco e Miles Davis

Davis era um jovem de 22 anos, tímido, não falava uma palavra de francês, mas nem precisava, o amor foi mais forte. Os dois tiveram um tempestuoso romance, sempre se vendo quando tinham uma folga e ficando amigos até a morte deste.

Cocteau foi outro que não resistiu aos seus encantos e a convidou para participar de seu filme, “Orphée”, em 1949, ao lado de Jean Marais.

Gréco em cena de “Orphée”

Foi nesta época, que ela começa a gravar suas primeiras músicas, entre elas “Si tu t’imagines”, poema de Raymond Queneau, musicada por Joseph Kosma, a qual ela cantou graças ao impulso de Sartre:

A voz aveludada de Gréco embalava a França do pós-guerra, época que ela era uma das personalidades mais badaladas da efervescente Paris.

Juliette clicada por Man Ray

Outra música que fez sucesso na voz dela foi “Parlez-moi d’ amour”, clássico dos anos 30 que voltou às paradas graças a sua interpretação:

Outro famoso poeta francês, Jacques Prévert, também compôs músicas para Gréco como “Je suis comme je suis”:

Gréco foi gravando discos e conquistando os franceses, bem como sendo convidada a se apresentar em vários lugares mundo a fora.

Um destes lugares foi o Rio de Janeiro, onde ela cantou em meados dos anos 50, e onde vendeu todos os ingressos de sua apresentação graças a um boato onde diziam que ela cantaria nua, o que não passou mesmo de um boato.

Outro hit seu do início dos aos 50 foi “Sous le ciel de Paris” (incluído recentemente na trilha do filme “An Education”):

Não demorou muito para ela ser descoberta por Hollywood, já que o produtor David O. Selznick se apaixonou por ela e a chamou para fazer filmes como “The Sun also rises” de Henry King, “Roots of Heaven” de John Huston e “Crack in the Mirror” de Richard Fleischer, entre outros.

Em dois deles ela contracenou com Orson Welles, a qual se tornou companheira de bebedeiras, comilanças e de muita diversão.

Além disso, ela foi ficando amiga de escritores como Truman Capote e Françoise Sagan.

Inclusive, ela participou do filme baseado na obra de Sagan, “Bonjour Tristesse”, filme estrelado por Jean Seberg, no qual faz uma pequena aparição cantando a música tema:

Nos anos 60, Gréco chegou a ser casada com o famoso ator Michel Piccoli (de filmes como “Belle Du Jour” de Buñuel e “Le mépris” de Godard, entre muitos outros).

Juliette Gréco e Michel Piccoli

Ela chegou a ter um breve romance com Serge Gainsbourg, do qual gravou “La Javanaise”:

Gréco se apresentou por várias ocasiões no Le Olympia de Paris, onde fez bastante sucesso e interpretou canções como “Déshabillez-moi”:

Depois de vários lançamentos e concertos, este ano Gréco resolveu se aposentar, tendo iniciado sua última turnê em abril de 2015 e se apresentado no Olympia no mês passado.

Como ela mesmo declarou sobre sua aposentadoria: ‘Para mim, é muito complicado e doloroso. É preciso saber sair com elegância”.

E foi com esta elegância que ela conquistou Hedi Slimane, que a nomeou uma das embaixatrizes da Saint Laurent.

Em 2013, ela lançou seu último trabalho, uma homenagem a outro mito da canção, Jacques Brel (autor de “Ne me quitte pas”), “Gréco chante Brel”.

Gréco, aos 88 anos recém-completados, ainda é um símbolo da elegância, da chanson française interpretada com primor e sofisticação.

  • Love
  • Save
    Add a blog to Bloglovin’
    Enter the full blog address (e.g. https://www.fashionsquad.com)
    We're working on your request. This will take just a minute...