TODAY’S SOUND: NINA SIMONE – WHAT HAPPENED MISS SIMONE POR ARTHUR MENDES ROCHA

Nina Simone foi uma das artistas negras que mais lutou pelos direitos civis de sua raça e procurou, com sua música, falar destas e outras questões.

Isto é o que mostra a nova cinebiografia da estrela que acabou de ser lançada no Festival de Sundance, ‘What happened Miss Simone”, produção da Netflix.

Nina era famosa por dar tudo de si em cada canção, ela não permitia que alguém da audiência tirasse a sua concentração; suas canções são pungentes, cantadas do fundo de sua alma, mas tudo isto vinha com um preço.

Suas canções falavam de amor, de perda, da luta pela igualdade, tinham que vir do coração e isso abalou muito sua saúde física e mental.

Através de filmes jamais vistos, entrevistas com pessoas que conviveram com ela, gravações até então inéditas, a diretora Liz Garbus consegue traçar um retrato pungente desta extraordinária intérprete.

Nina lutou muito para ser aceita, ela vivia em uma América dominada pelo racismo, pelo preconceito e uma de suas ambições era estudar música clássica. Ela chegou a ser rejeitada em uma escola de música na Filadélfia pela sua cor de pele.

Isto não a impediu e durante sua carreira, Nina misturou música clássica com blues, jazz, gospel, fazendo disto o seu inigualável estilo. Mas no começo de sua carreira era difícil saber como classificar sua música.

Uma de suas interpretações mais famosas é de “I loves you Porgy”, onde todos a apontavam como a substituta de Billie Holiday.

Ao resolver se dedicar a profissão de cantora, uma de suas primeiras atitudes foi trocar de nome, para que sua religiosa mãe não descobrisse sua nova profissão; assim de Eunice Waymon, ela muda para Nina (pequena mulher em espanhol) e Simone (em homenagem a atriz francesa Simone Signoret).

Nina foi casada com um ex-policial, Andrew Stroud, que largou tudo para se dedicar a carreira de sua mulher. Porém, este passou a ser violento com ela, controlando-a em demasia e exigindo demais dela profissionalmente. Além de batê-la, ele também a amarrava e chegou a apontar uma arma para sua cabeça.

Os dois tiveram uma filha, Lisa Celeste, que fala de sua mãe no doc: “O problema era quando ela passou a ser Nina Simone 24 horas por dia, 7 dias por semana”.

Nina chegou a se viciar em remédios para dormir e para manter-se acordada. Os dois se divorciaram em 1970.

Certa vez, ela estava tão exausta das turnês e shows que ele a infringia, que ela acabou passando maquiagem no cabelo ao invés do rosto.

Mas quem a fez realmente acordar para as questões dos direitos civis dos negros foi Lorraine Hansbery, autora do best-seller ‘A Raisin in the sun’ (transformado no filme “O sol tornará a brilhar” com Sidney Poitier).

Hansbery conversava com Nina sobre revolução, assuntos políticos mais densos e que tiveram muita influência sobre ela. Ao invés de fazer shows para brancos, Nina resolve partir para a luta, participando de concertos como um em Birmingham, Alabama, o primeiro concerto multirracial na área e onde ela interpretou “Brown Baby”.

O recente filme “Selma” mostra bem o caráter ativista de Nina, quando esta se convida a cantar para os manifestantes e apoiando Martin Luther King e sua marcha de protesto, interpretando ‘Mississipi Godam”, música esta feita logo após um atentado contra crianças negras.

Mas Nina não foi declarada a voz do movimento negro por King e sim por Stokely Carmichael e H. Rap Brown, cuja filosofia Black Power ia diretamente ao encontro dos anseios dela.

Em muitos dos seus concertos, ela convidada a audiência para a luta, e se estes estariam prontos para matar e morrer pela causa. E encerrava com o gesto de fechar o punho, como que incitando a multidão.

É interessante também saber que ela chegou a ser vizinha de Malcom X e sua esposa, e que este era a favor de um confronto com os brancos, mesmo que se a violência se tornasse necessária.

Com o avanço dos anos 60, Nina passa a adotar outra maneira de vestir, usando o cabelo em coques, com turbantes e vestindo roupas no estilo africano. Era como se ela estivesse assumindo uma postura mais de acordo com sua raça.

Um dos momentos mais sensíveis de sua carreira, foi ao cantar para crianças negras na escada da Vila Sésamo, com a canção ‘To be young, gifted and black”; uma canção que fala do orgulho em ser negro:

Os anos 70 foram difíceis para sua carreira, já que sem o movimento de direitos civis e sem seu marido, ela se sentiu perdida, acuada. O marido, apesar de tudo, cuidava de sua carreira e finanças, mantendo-a calma e proibindo o álcool antes de cada espetáculo.

Ao se mudar para Paris, ela enfrentou um período de falta de shows, tendo que realizá-los em pequenos cafés; só que quase ninguém comparecia, pois não acreditavam se tratar da verdadeira Nina Simone.

Ela chegou a ser vista andando nua com uma faca por um corredor de hotel, prendeu fogo em sua casa na França e feriu um adolescente, atirando em sua perna por fazer muito barulho.

Ela teve de ser encaminhada para um hospital psiquiátrico em uma camisa de força.

No final dos anos 80 é que seu nome voltou a aparecer depois que a Chanel colocou sua música, “My baby just cares for me” na trilha de um comercial, gerando um novo interesse por seu trabalho.

Nos seus anos finais, ela fez bastantes shows e seus discos vinham mantendo boas vendagens.

Nina veio a falecer em seu leito, na França, em 2003.

Sua música continua cada vez mais viva, sendo remixada, utilizada em trilhas de cinema e cantada por novos aspirantes a cantores de programas como o X-Factor, como “Feeling Good”:

Anos depois de sua morte, chegou-se a conclusão que Nina era bipolar. Talvez isto explique o seu temperamento tão explosivo em alguns momentos e mais calmos em outros.

Recentemente, outra cinebiografia foi anunciada, ‘Nina’, tendo Zoe Saldana no papel da cantora, porém isto gerou vários protestos, já que a cor de pele de Zoe é bem mais clara que a de Nina e isto foi considerado uma atitude preconceituosa.

Resta aguardarmos para vermos o resultado do trabalho de Saldana e se este faz jus á personalidade tão surpreendente do ícone que é Nina Simone.

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