TODAY’S SOUND: TRANSPARENT POR ARTHUR MENDES ROCHA

“Transparent’ é uma produção da Amazon, que também entrou com tudo nas séries e surpreendeu a todos, vencendo o Globo de Ouro de melhor comédia do ano de 2014.

É a primeira vez na história da premiação, que este vai para uma série disponibilizada por um site que agora tem um estúdio (Amazon Studios) e cujos episódios são transmitidos em streaming; realmente vivemos novos tempos.

A série é na verdade uma dramédia, mistura comédia e drama, e uma das suas principais atrações é o sensacional elenco, a começar por Jeffrey Tambor (o pai na série cult ‘Arrested Development”), que mereceu o Globo de Ouro de melhor ator por este papel.

Ele faz o papel de Mort, pai de três filhos e que resolve assumir o seu lado transexual, ao revelar a persona de Maura, uma mulher de meia idade e que já vinha se manifestando há muito tempo, porém ele não tinha coragem de assumir.

Acho que é a primeira vez que uma personagem travesti é encarada de maneira natural, sem exageros; claro que o trunfo é principalmente de Tambor, que está impecável em cada cena que aparece e que deve concorrer (e quem sabe vencer) o Emmy.

Esta primeira temporada é quase toda centrada nesta parte dele contar para os filhos, a reação de cada um deles e assumir isto perante amigos e a sociedade.

E isto a série soube fazer de maneira brilhante, nunca é piegas, cada episódio é um misto de emoção, humor, balanceados de maneira perfeita, já assegurando uma segunda temporada.

A começar pelo título, Transparent já nos dá a pista: trans (transexual) parent (pais), ou até mesmo da palavra transparente, que é como Mart/Maura se sente perante os filhos que não notam o seu conflito.

Além de Tambor, a série conta com os seguintes personagens fixos:

Amy Landecker (Sarah Pfefferman) – uma das personagens mais interessantes, pois é feita por uma ótima atriz que fazia pequenos papéis e aqui está arrasando, já que vive em sua vida pessoal uma grande mudança quando começa a se interessar por mulheres, mostrando um lado bisexual;

Jay Duplass (Josh Pfefferman) – Duplass é também diretor e roteirista (junto com o irmão Jay) e nunca o tinha visto atuar e gostei bastante, ele é charmoso, interessante e vive o papel de um bem sucedido produtor da indústria fonográfica, mulherengo, mas que vai vivendo situações nas quais deve rever seu jeito de se relacionar;

Gaby Hoffman (Ali Pfefferman) – Gaby é uma de minhas atrizes favoritas do momento, depois de arrasar na segunda temporada de “Louie”, ela fez ótima participação em “Girls” (como a irmã de Adam) e estrelou o divertido filme “Crystal Fairy” (ainda inédito por aqui). Além disso, ela me ganhou quando descobri que ela é filha de Viva, integrante da turminha da Factory de Andy Warhol. Seu papel na série foi escrito especialmente para ela e ela dá um show como a filha problemática e desempregada.

Judith Light (Shelly Pfefferman) – a ex-mulher de Mort/Maura, mãe dos filhos dele e uma das personagens mais bacanas da série, sempre pronta a ajudar e entender cada situação que um de seus parentes enfrentam. A atriz é mais conhecida por seu divertido papel em ‘Ugly Betty”.

‘Transparent” foi criado por Jill Solloway, que escreveu o roteiro baseado numa experiência pessoal, já que seu pai assumira o seu lado trans para a família e ela procurou fazer do tema algo a ser discutido e levantar a bandeira das pessoas que vivem esta situação.

Tanto que no set, ela só utiliza banheiros para qualquer gênero sexual, empregou diversos trans na equipe, além de estar constantemente se atualizando no assunto através de seus consultores, de revistas e livros que dissecam o assunto.

Ela já havia dirigido o filme “Afternoon Delight”, que venceu o prêmio de direção no Festival de Sundance em 2013.

Outra observação importante e que eu havia sentido ao assistir a Transparent é o quanto esta lembra “Six Feet Under’ (A Sete Palmos) e pesquisando, vim a descobrir que Soloway foi roterista de Six Feet, logo toda esta relação familiar é tão bem relatada tanto numa como na outra série.

A série encara a mudança de Mort para Maura de maneira sensível, cada situação, desde o momento em que conta para cada um dos filhos, para a ex-esposa, para seus amigos, a sua nova vida como trans, como ele (a) tem que se adaptar a cada novo passo de sua (nova) vida.

Em um episódio, por exemplo, Maura passeia no shopping com as filhas e quando vai ao banheiro, sua filha mais velha fala para utilizar o banheiro das mulheres, porém uma outra mãe se revolta com a situação e a chama de pervertida.

Mas justamente aí é que está o legal da série, nem tudo são flores, cada um encara de uma maneira, com ou sem preconceito, estamos falando de um pai, certinho, professor universitário, que de repente resolve se assumir e imagina como a sociedade irá encarar um senhor que agora se veste e se comporta como uma mulher? E quando este alguém é o seu próprio pai?

Estas e outras questões são enfocadas de maneira adulta, em episódios extremamente bem dirigidos, bem interpretados, bem roteirizados, dá vontade de devorar a série e ver todos os episódios de uma vez.

Outro detalhe interessante da série é utilizar o presente e passado de maneira que compreendemos algumas das situações que acontecem hoje em dia, como no episódio que Mort se traveste com um amigo e vão para um encontro de transexuais na década de 80.

A série pode muito bem encarar o assunto mais pesado, mais difícil, de maneira inteligente, com naturalidade e maturidade; e isto ‘Transparent” consegue atingir, só espero que o público dê uma chance e vá atrás para assistir a este ótimo trabalho de dramaturgia.

Recentemente, Soloway declarou que pretende fazer cinco temporadas de “Transparet” e que trabalhar para serviços de streaming como a Amazon lhe garante o sonho de todo diretor: a liberdade de criação!

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