Um abraço mas é para quem já não tem pai



Hoje de manhã passei pelo face de um amigo e vi que ele - que é homem adulto e pai de família - tinha colocado uma foto do pai, já falecido, considerando-o a sua grande referência de vida. Senti perfeitamente a sua dor. Conhecemo-nos desde putos e eu cheguei a conhecer o pai dele que morreu quando o meu amigo era adolescente. Hoje em dia é um homem equilibrado e profissional mas mais de 20 anos volvidos continua a emocionar-se quando fala do pai, um homem interessante, que em tempos fora pugilista e depois fizera carreira ligado ao teatro. E também já tive uma mulher que eu muito amava e que nunca passava muitos dias seguidos sem, por um assunto ao outro, me falar no pai, que mal conhecera, e que mal estivera presente na sua vida (há muitas definições de pai ... não são poucas as vezes em que pai é apenas um "conceito" muito mais do que uma "verdade").

É um karma fodido, esse o de não ter tido ou já não ter pai. Mexe com a tua cabeça, não te consegues entregar ao futuro e ao presente. Arrisco dizer que vicia o teu jogo, não amas da mesma forma livre as pessoas que devias amar. Mesmo quando tudo parece perfeito, vidas equilibradas, decisões ponderadas, muitos anos volvidos. Ficam traços de insegurança, isolamento, desequilíbrios, falhas na comunicação e até agressividade. Escorregas nos teus afectos. Num Mundo perfeito todos teriam tido pai para sempre. Mas num Mundo perfeito não haveria putos no IPO que não vão chegar ao fim do ano. Esta luta mundana nunca foi acerca de justiça. Deus se existe não é o Deus que te vendem nos templos. Só tu é que te poderás salvar e apenas se detectares a tempo onde está o erro na caixa de fusíveis que vai dar ao teu coração.

Por isso, quando eu vejo o Dia do Pai penso no meu que adoro (e só não fui almoçar hoje com ele e a minha irmã, a Lindinha, porque tinha uma reunião no escritório às 13.30 com umas clientes Holandesas cheias de grana ... e ele seria o primeiro a ficar aborrecido comigo se eu faltasse a um compromisso profissional por causa do Dia do Pai). Mas penso sobretudo naqueles e naquelas que não têm pai. Nas duras caminhadas que fizeram em silêncio desde o dia daquela que é uma das mais pesadas penas a aplicar ao ser humano. O mesmo ser humano que - mais do que carreira e dinheiro - precisa de boas relações humanas para ser feliz. Em si o Dia do Pai não é diferente do Dia dos Namorados ou do Dia de Natal, no sentido em que são dias que o comércio nos recorda que existem para efeitos de facturação. O que realmente importa é acordarmos todos os dias ao lado de quem gostamos e termos ligações de generosidade com quem nos merece. É por isso que eu sinto a dor de quem perdeu um pai. E deixo o meu abraço. Relembro a todos e todas que têm já hoje tudo o que precisam para ser felizes, há por aí resmas de gente interessante e amável que poderão fazer esquecer qualquer perda passada. Não há nada de errado convosco. É o resto do Mundo que está ao contrário.

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