Fotos do submundo: o caso Merry Alpern

Merry Alpern é uma fotógrafa Americana. Tem um estilo corrosivo e profundamente sacana. (Just how we like it). Há qualquer coisa de Helmut Newton nela (e esse é o maior elogio que lhe podemos dirigir) no entanto, com muito menos pureza e sem qualquer preocupação de estética ou de classe. Merry simplesmente não joga por essas regras. Em 1995, escondeu-se num apartamento na zona de Wall Street e começou a tirar fotos às escondidas a uma casa-de-banho de uma casa de alterne, no edifício em frente. O resultado é uma série de fotos conhecidas por Dirty Windows.

Merry veio a ser seriamente criticada por isto. Não lhe reconheceram liberdade artística para ser voyeur e ainda para mais, argumenta-se, o público ficava, cito, "desconfortável" perante as suas fotos. O NEA (The National Endowment for the Arts) chegou a retirar-lhe prémios o que, claro, só veio a aumentar consideravelmente a notoriedade de Merry. Mais tarde Merry veio também a fazer uma série de fotos sobre mulheres a experimentar roupas em lojas, atacando à sua maneira a sociedade de consumo. Não acho tanta piada a esta série mas mais uma vez Merry mostrou a todos que a arte pode e deve ser perversa. Precisamos de gente assim. Só podemos avançar com gente assim. Os postais não podem ter sempre a mesma vista e nem sequer deveria ser uma questão de gostar das fotos em causa. O tempo veio confirmar a impressão inicial. Hoje os trabalhos de Merry Alpern podem ser encontrados no MOMA ou no Baltimore Museum of Art. A bastard saved the day.

(Há também um livro e um vídeo)


“Recurring characters gave these pantomimes a soap-opera quality. These mini-dramas and their unvarying props—condoms, tattoos, silicones, crack—filled my head and I began to think about the windows all the time. They found their way into my dreams.”
Merry Alpern