A névoa marítima envolvia as antigas construções de St. Pierre,
emprestando à pequena colônia francesa um ar de mistério e irrealidade. Sally e Luke andavam pela praia em silêncio, confusos. Ansiavam por experiências que os enchiam de medo; queriam ficar juntos e não podiam! Uma breve aventura de férias não conseguiria apagar os problemas de seus casamentos e eliminar a presença de antigos companheiros de vida. Mas, quando eles se beijavam e se entregavam à fúria da paixão, desejavam ardentemente que esses momentos fossem, no mínimo, eternos...
Capítulo Um Sabe do que você precisa Sally? De um bom caso! Sally fez uma careta e sacudiu a cabeça. O sol em seus cabelos loiros emprestava-lhe reflexos avermelhados. — Ora, Lynette! Se você me dissesse que eu precisava de uma nova máquina de lavar roupa ou então de uma empregada que dormisse no serviço, eu concordaria. Mas um caso! É a última coisa de que preciso. — Aí é que você se engana — tornou Lynette com veemência. Lynette era uma mulher interessante. Pequena e delicada, com grandes olhos azuis, dava a impressão de estar sempre no mundo da lua. Isso tudo, juntamente com as roupas incomuns que usava seu ar boêmio e o temperamento artístico, desconcertava algumas pessoas. Mas não Sally. Melhor do que ninguém, ela sabia que Lynette tinha opiniões firmes sobre praticamente qualquer assunto. Além disso, era sensível, afetuosa e dona de uma discrição a toda prova. Desse modo, Sally sempre ouvia com interesse o que a amiga tinha a dizer. — Então me diga por que estou errada. Provavelmente você já tem todos os argumentos em ordem alfabética. — Você me conhece muito bem mesmo — respondeu Lynette, rindo. — Já somos amigas há quatro anos... Desde que Cecília nasceu. — E desde que Bruce partiu. — Sim... Parece que foi há tanto tempo... É como se houvesse acontecido a outra pessoa. — Mas não foi. Aconteceu a você, uma mulher bonita que morre de medo dos homens e que transformou sua vida numa prisão. Com um suspiro, Sally deitou-se na grama e fechou os olhos. Bonita? Ela não concordava. Achava-se comum: altura média, traços regulares, sem nada que pudesse chamar a atenção dos outros... Sally não tinha olhos para as características que os outros julgavam especiais nela, para os contrastes que a tornavam fascinante: a linha forte do queixo e o ar de vulnerabilidade transmitido pelo contorno suave dos lábios, o tom vibrante dos cabelos em comparação com o verde acinzentado dos olhos, a graça natural dos movimentos e a expressão inacessível e remota do rosto... Sally era uma mulher atraente e misteriosa. — Isso é coisa do passado, Lynette. Não vamos falar sobre coisas desagradáveis. É junho, e o sol está delicioso. E, durante alguns instantes, elas ficaram em silêncio, ouvindo as ondas e o grasnar das gaivotas. — Você já pensou em se casar outra vez, Sally? — Algum dia, quem sabe? — Sei! Hoje, amanhã, algum dia, nunca! Seja honesta, Sally. — Afinal, o que você tem hoje? — Estou preocupada com você. — Sem motivos. A impressora do micro está quase paga, Caleb foi bem à escola e Cecília continua um amor. O que mais posso querer? — Um homem. — Não abuse de minha paciência. — Sally sentou-se, irritada. — Vamos deixar de lado esse assunto, sim?