Ela tentou esquecê-lo, com todas as suas forças. Mas o problema é que Jake não conseguia esquecê-la... Pensando bem, Jake não era mesmo para ela: rico, sofisticado,muito mais velho e arrogante, ele pertencia a outra classe social. E Ashley não passava de uma pobre órfã que só agora, morando com os tios, conhecia um verdadeiro lar. Além do mais, Jake estava noivo e ia se casar em breve. Mas conto tirar da cabeça aquele homem de olhar intenso e provocante, que a fazia tremer e gaguejar quando estava por perto? Como sair da vida dele se, pelo jeito, ele não estava nem um pouco disposto a sair da vida dela? Que atitude tomar quando todos a acusavam de ser a responsável pela terrível desgraça que se abateu sobre ele, depois daquele acidente? Capítulo Um Os últimos raios de sol daquela tarde fria refletiam-se sobre os telhados quando Ashley Calder virou a esquina da Highstreet e avistou o pequeno hotel à sua frente. Para ela era o mesmo que já estar em casa e, inconscientemente, apressou o passo ao pensar no fogo acolhedor aceso na lareira da sala de estar da tia e no agradável cheiro a comida que vinha da cozinha. Tudo era novo para ela. Muito pequena ainda quando a mãe morrera, não se lembrava da época anterior ao seu falecimento. Depois, ficando a viver só com o pai e apesar dos esforços deste, sentiu sempre em casa a falta de uma presença feminina. O Hotel Golden Lion era uma construção de pedra que suportava com dignidade o desgaste do tempo e que se encaixava bem nos edifícios altos à sua volta. Tinha também o seu lado histórico, pois dizia-se que, uma vez, um membro importante de uma família real no exílio se abrigara ali durante uma viagem à Escócia, no Norte, em busca de refúgio e segurança. Apesar de grande parte do edifício ter passado por diversas reformas, ainda persistia no conjunto uma atmosfera de passado, bem evidente no soalho e nas vigas de carvalho do teto. Ao fim de poucas semanas de lá estar, Ashley já se harmonizara com o ambiente, e as recordações do tempo passado em Londres iam-se tornando menos dolorosas.Os tios eram muito bons para ela. Partilhavam da sua tristeza pela morte repentina do pai e faziam-na sentir-se parte da família, o mesmo acontecendo com os primos, Mark e Karen. O futuro, que há apenas oito semanas lhe parecera tão negro, sorria-lhe outra vez. Havia sido muito difícil abandonar Londres, deixando tudo e todos atrás de si, e vir para Yorkshire, no Norte, para viver com os tios, de quem mal se lembrava. Vira-os uma vez apenas, quando tinha cinco anos. Mas isso fora há doze anos, quando a mãe morrera e a tia, irmã da mãe, viera com o marido ao funeral. Nessa altura, não percebera os problemas de família que existiam. Mas, à medida que crescia, começou a aperceber-se da antipatia do pai pelos cunhados. Daí que nunca a tivesse encorajado a manter contacto com eles e a distância contribuíra para os manter afastados. Só agora, ao ver como era bem tratada, é que Ashley se perguntava por que razão o pai não quisera nunca que se aproximasse. Talvez receasse que a afastassem dele ou tivesse percebido que o tipo de vida que os cunhados levavam tinha mais calor humano e temia que isso atraísse Ashley, que, sozinha com ele, vivia uma existência bastante monótona. Mas tudo isto pertencia ao passado. Ah em Bewford é que estava o seu futuro a partir de agora. com passos leves atravessou a passagem em forma de arco e entrou no pátio existente nas traseiras do pequeno hotel. A tia estava na cozinha e, ao vê-la entrar, trazendo consigo um pouco de vento gelado da rua, sorriu e disse-lhe: — Olá, querida. Tiveste um bom dia?