Céu Sem Estrelas


ROMANCE CONTEMPORÂNEO
A lancha atracou no cais da ensolarada ilha de Bayaltar,
no Mediterrâneo, e Angie estava com o coração sufocado pela tristeza. Depois de tantos anos, tinha voltado para encontrar o homem a quem amava em segredo desde a infância. Mas agora Rique de Zaldo estava cego e tinha se tornado um homem desiludido, irascível. Angie imaginava sua penosa tarefa: permanecer dia após dia ao lado de Rique, como sua enfermeira, compartilhando o sofrimento das trevas em que ele vivia. Mas, se amava desesperadamente aquele homem o que mais importava? No fundo sabia. Iria ajudar Rique a reencontrar a alegria de viver. E assim, talvez, ele viesse a amá-la…

Capítulo Um
A lancha atracou no embarcadouro da ilha de Bayaltar, nas águas do Mediterrâneo. A população da ilha era composta de uma variedade de nacionalidades, mas, na maioria, eram opulentos espanhóis que construíram suas mansões entre as altas e frondosas árvores tropicais, e que comandavam o comércio e a sociedade locais. Angie estava sentada na lancha, com o coração aos saltos, tomada por um tumulto de emoções. Há seis anos, ela havia dado adeus a Bayaltar e agora retornava. Não mais como uma colegial de dezesseis anos, mas como uma mulher adulta, trazendo na bagagem seu uniforme de enfermeira. A ela estava reservada uma importante missão na residência de Carlos de Zaldo, o governador geral da ilha. A lancha balançou de encontro ao deck, e o sol, caindo em cheio sobre a superfície do mar, criava tonalidades maravilhosas. Um suspiro de nostalgia subiu à garganta de Angie. Nem a desconfortável trepidação do barco, nem os anos de ausência, conseguiram diminuir a sensação de encantamento que sempre sentira por Bayaltar. Parecia muito próximo o tempo em que ela frequentara a ilha, passando parte das férias de verão e de inverno com a família do governador. Maya de Zaldo cursara a mesma escola que Angie, na Inglaterra, e as duas garotas tinham se tornado amigas íntimas. Depois que sua tia Kit morreu, Angie ficou sozinha no mundo e a família de Maya fora muito gentil convidando-a a passar algum tempo com eles. Logo simpatizara com todos e para Angie aquela enorme mansão era o lugar mais fascinante e encantador do planeta. A estirpe dos De Zaldo era muito rica e poderosa, considerada um dos expoentes da aristocracia local. Don Carlos era a própria imagem do fidalgo espanhol e, ao lado dos filhos, vivia com muito luxo, num estilo de vida bem diferente do que Angie havia conhecido ao lado da tia. Ela tivera sorte em estudar no Convento da Santa Virgem, graças a um dote feito quando nascera. Só depois que a “tia” morrera, veio a saber que, de fato, ela era sua mãe. Quem era seu pai e se ele ainda vivia em algum lugar da Inglaterra, fora sempre um mistério que Angie nunca tentou desvendar. Se Kitty Hart tivera um caso amoroso no passado e preferira intitular-se “tia” da própria filha, Angie respeitava esse desejo. Tinham sido pobres, mas unidas por uma grande e sincera afeição que tinha deixado ternas recordações. Mas as lembranças de Bayaltar haviam sido mais perturbadoras, reavivadas há uma semana, quando Maya lhe telefonara contando que Rique de Zaldo fora gravemente ferido durante uma missão militar e que no momento estava novamente em casa, necessitando dos cuidados de uma enfermeira. — Por favor, conte tudo! — pedira Angie, apertando nervosamente o fone. — Foi terrível! — Maya dissera aquilo com desespero na voz. — Fragmentos da bomba atingiram seu rosto e a cabeça e… oh, Angie, o coitado do Rique perdeu a visão. Ele está cego!


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