Esperanças Roubadas


ROMANCE CONTEMPORÂNEO
Nada convinha mais a Shannon do que aquele emprego
como assistente administrativa de uma fazenda no interior da Austrália. Pena que ela não preenchesse uma condição exigida: ter experiência anterior. Mas Shannon estava sozinha no mundo, sem amigos nem dinheiro, e resolveu que não podia perder aquela oportunidade. Inventou uma história e conseguiu o emprego. Quando conheceu seu patrão, Mark Seymour, percebeu que ele não era homem de se deixar enganar e que jamais perdoaria quem tentasse fazê-lo. Então, para piorar, Shannon se apaixonou por ele. Como confessar-lhe que ela estava mentindo, mas que o amava?

Capítulo Um
O sol acabara de nascer quando Shannon Marshall acordou na cabine do trem. Na véspera tomara o expresso em Sídnei. Tudo era rosa e dourado e ela olhava fascinada o disco vermelho do sol surgindo por trás da mata e fazendo as milhares de gotas de orvalho brilharem como jóias, enquanto subia para um céu sem nuvens. Muito excitada para voltar a dormir, Shannon comprimia o nariz na janela do trem, exultante. Tudo estava como sempre imaginara que seria. Cercas de arame farpado aprisionando carneiros e o gado que pacificamente começava a pastar na relva muito verde; ocasionalmente uma casa vista à distância e a rica terra cor de chocolate rodeada de campos verdes ou de mato fechado. Depois de se lavar no minúsculo banheiro, aplicou uma leve maquilagem sobre a pele e observou criticamente seus olhos azuis circundados por longas pestanas e seus cabelos loiros que chegavam até os ombros. Começou a arrumar suas coisas numa pequena valise. Depois descobriu que era impossível se concentrar no livro que comprara na estação, na véspera. Decidiu ir até o carro-restaurante para tomar seu café, assim o tempo passaria, pois sabia que ainda teria longas horas de viagem até chegar a seu destino. Começou a recordar as inacrediáveis circunstâncias que determinaram sua viagem. Tudo começara na hora do almoço, há três semanas. Durante duas semanas o jornal Country Weekly publicara o mesmo anúncio na seção de empregos e ela agora até o sabia de cor: "Moça para auxiliar nos trabalhos de casa e ser assistente de administração, com aproximadamente vinte anos. Precisa-se para trabalhar numa fazenda de gado e carneiros. É preciso ter experiência". Shannon acendeu um cigarro e recostou-se na cadeira deixando o olhar vagar pela janela, vendo as cenas que passavam em rápida corrida. Aquela frase "é preciso ter experiência" causara e ainda lhe causava uma certa ansiedade. O problema era que ela não a tinha. . . mas confiava em si mesma para desempenhar o trabalho a contento. Bem, é claro que, se Guy Crawford, um bom amigo dos tempos de colégio, não tivesse escolhido a mesma lanchonete para almoçar naquele preciso dia, nunca ficaria sabendo de suas intenções e as coisas hoje poderiam ser diferentes. Sem dúvida, ela receberia uma polida recusa pelo correio. Mas o longo braço do destino a alcançou naquele dia. Não só o pai de Guy era o gerente da agência que colocara o anúncio, fato que Shannon desconhecia, como também Seymour, de Tuesday Creek, que encomendara o anúncio, era por coincidência amigo da família. A princípio Shannon duvidou dos argumentos do amigo, mas aos poucos ele a convenceu de que era verdade. Tinha dito a Guy que ser assistente de administração era algo que sempre desejara fazer, mas que nunca tivera oportunidade, pois seu pai, o único parente que lhe restou, exigira toda a sua atenção durante seus últimos anos de vida. Já tinha perdido as esperanças quando leu aquele anúncio. Guy então se ofereceu prazeirosamente para ver o que podia fazer a seu favor. O trem fazia um barulhão, ao passar agora por uma ponte de madeira, mas nem isso conseguiu tirar Shannen por mais de um ou dois segundos de suas divagações.


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