Visionária


Enquanto o Brasil morre de calor, o frio invade a Europa. É dura essa inversão de estações, por dois motivos: ninguém está satisfeito com o que tem, e o muro do Facebook fica esfregando na sua cara os corpos dourados na praia no fim de tarde enquanto você fica congelando no sofá. Todo mundo se queixa do calorão asfixiante, e no entanto aqui, nós nos queixamos do frio gelado e de ter que sair na rua com a roupa posta por camadas. Hoje fez um dia desses, e pra piorar, chovia. Nada fora do normal pra essa época do ano, e menos em Santander, que é uma cidade úmida por natureza. Aqui chove demais e é sempre bom ficar preparado.

Pensando em estar pronta pra enfrentar a chuva depois de muito me ferrar por ser desprevenida (santa inexperiência! Nunca queiram saber o que é andar com os pés molhados a 3ºC, não recomendo!!!), eu resolvi comprar umas galochas. Faz alguns anos já, talvez uns seis. Primeiro comprei umas na H&M em Madri que eram de uma cor cinza escura que me agradavam, porque na época o que eu encontrava nas lojas daqui eram umas galochas coloridas com estampado florido que na minha opinião eram o cúmulo do brega. A galocha da H&M foi um achado, mas elas resultaram não ser muito confortáveis. Que isso, acho que eu peguei leve demais, elas arrasavam com o meu calcanhar, não dava pra andar nem dois metros com elas. Mas eu usava mesmo assim, por pura necessidade.

Nessa mesma época, algumas "celebrities" famosas começaram a aparecer em festivais de verão com umas galochas que até então eram desconhecidas no resto do mundo, porém muito conhecidas na Inglaterra. Pois é, a marca era a Hunter, e eu até então só tinha visto essas galochas nos pés da Kate Moss ou da Siena Miller. Foi amor à primeira vista. Na verdade, quando eu comprei as primeiras galochas, eu realmente queria umas Hunter, mas era impossível de encontrar e eu não tinha muita soltura comprando online naquela época. Mas eis que um dia em Madri eu me deparo com elas: taquei o cartão de crédito sem dó.

As minhas são essas, pretas e basiquérrimas.
E vim pra Santander morta de feliz com a minha compra, e ao andar na rua com elas, notava olhares curiosos. Mais de uma pessoa me parou pra perguntar aonde eu as havia comprado. Me senti como a única pessoa do mundo com umas Hunter nos pés. Pelo menos no mundo que rodeia Santander. E foi assim durante um bom tempo, mas hoje eu caí na real que sou uma a mais no meio da multidão.

Justo hoje, andando pelo centro da cidade, quase não havia cidadã com umas Hunter nos pés. Era coisa de encontrar uma a cada esquina, em mil cores diferentes, opacas, com brillo... A moda pegou mesmo, e não parece ser coisa passageira, pelo menos nessa cidade tão molhada. Aí eu lembrei do meu Rio de Janeiro e aquelas enchentes horrorosas, as ruas alagadas, que feliz eu seria com minhas Hunter lá. Da última vez que eu estive por ali peguei um chuvão tremendo no centro e alagou tudo, me molhei da cabeça aos pés mas felizmente a temperatura não estava tão baixa e não chegou a ser tão desagradável, a gente até se divertiu sambando nas poças. Desagradável mesmo foi ver subir aquela água suja de esgoto e saber que podia pegar qualquer doença, e foi nesse exato momento em que eu mais senti falta das minhas galochas tudo-de-bom.

Nós duas, um caso de amor.
Da próxima vez que eu for ao Rio, mesmo que pese muito na mala, estou decidida a levá-las. Não sei se vou ser uma das primeiras como aqui em Santander, mas fica essa ilusão. Eu costumo apostar por coisas que ninguém pensa em comprar e acabo acertando, anos depois todo mundo tem.

É por isso que eu me considero uma "visionária da moda" algumas vezes. Acho que o legal da coisa é você apostar por aquilo que você realmente acha que tem a ver com o seu estilo, é ter coragem de ser atrevida com as novidades, não comprar porque todo mundo usa, ou todo mundo tem. Eu não sou "todo mundo". E você?

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