A ditadura do parto

Não sou do tipo que curte polemizar. Mas acompanho várias pessoas que considero bacanas, grupos e blogs que sempre abordam assuntos relacionados a maternidade e gostaria de poder usar meu blog pra falar um pouco sobre partos. O motivo que me leva a querer deixar minha opinião sobre esse assunto é um só: querem usar o parto como instrumento de culpa para a mulher.

Cansei de ver gente “cagando” regras quando se fala nas formas com que o bebê sai do nosso ventre. Que a mulher que tem o filho pelo chamado parto natural é mais mãe, que parto humanizado é melhor pro bebê, que a cesariana traumatiza a criança, enfim… Um monte de coisas que só parecem colaborar pra que as mães que dão à luz através de cesariana já sintam o peso de criar seus filhos antes mesmo de ele nascer.

Vamos combinar: todo mundo sabe que o melhor dos mundos é aquele que a natureza nos proporciona: ter uma relação sexual, engravidar, gestar 9 meses, ter contrações e fazer força pro bebê sair do ventre e pronto, uma nova vida! Claro que um parto natural é melhor, que a recuperação da mulher é melhor, mais rápida, menos dolorida. Se o parto for humanizado, se for em casa com uma doula, legal, desde que isso seja uma escolha. Nem vou entrar no mérito de que, infelizmente, nem todas nós podemos escolher ter o parto natural – eu mesma, não pude, porque nem quando as contrações foram induzidas tive contrações, então antes que o bebê entrasse em sofrimento, tive que me submeter à cesariana – só que tem mães que não querem passar por esse processo de contrações, dor, fazer força, etc. E acho que a escolha delas deve ser respeitada.

Se hoje temos esse poder, por que não? Por que toda mulher, pra ser “mãe de verdade“, tem que sentir as contrações, tem que ficar um tempão lá, sofrendo, fazendo força? Desculpa quem pensa isso, mas na minha opinião, isso é ignorância. Pense um pouco: várias daquelas crianças jogadas em lixeiras, sacos plásticos, caixas de sapato e afins nascem de parto natural, em casa, e as mulheres não podem nem ser chamadas de mãe ao cometerem um ato desprezível desse de abandonar um recém-nascido dessa forma, dando ao bebê pouquíssimas chances de sobreviver. Já pararam também pra pensar na adoção? Adotar, pra mim, é um ato de amor maravilhoso, quem vai dizer que uma mãe adotiva é menos mãe do que a própria mãe que gerou e deu à luz àquela criança?

Aí vem o povo da ditadura do parto dizendo que “foi comprovado cientificamente…” – sério? Não sou contra cada um acreditar no que quer, no que lhe convém. Sou contra querer fazer a cabeça de alguém apelando pra culpa, pro “Deus castiga“, pro “seu filho vai ser menos feliz se for arrancado do seu útero cirurgicamente“. Céus… Até quando? Os médicos que aconselham suas pacientes a marcarem o parto não são açougueiros, as mulheres que querem marcar não são vagabundas que não querem nem se dar ao trabalho na hora de fazer nascerem seus filhos. Entendam isso, de uma vez por todas! Vejo por aí muita mãe que bate no peito pra dizer que teve o bebê em casa, na água, que foi maravilhoso, que o filho é calmo porque nasceu assim, que é um bebê feliz e por aí afora, mas essa mesma mãe que teve toda essa preocupação na hora de parir não cuida do filho, quem cuida é a babá. Do que adiantou tanta pompa e circunstância, tanto discurso, se quem administra a vida e a educação da criança não foi a pessoa que a colocou no mundo?

Pra mim, quanto mais a gente desmitificar essa coisa de ser mãe, melhor. De uns tempos pra cá, parece que a sociedade anda tendo pensamentos e atitudes retrógradas, como se evoluir fosse voltar ao passado onde a mulher tem que sempre procurar tudo o que há de mais natural quando o assunto é maternidade. Ou então, gente que acha que ser mãe é tipo estar num nível superior, somente abaixo de Deus (ou de qualquer outra divindade da religião que você venha a seguir/acreditar). Não é, desculpem decepcionar vocês. Ser mãe é apenas um acúmulo de função que deram pra gente! É um exercício diário que não tem roteiro, não tem certo e errado, não tem atalho nem fórmula mágica.

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