Modi vai nú

A 3 de Dezembro de 1917, o sacana artista que o Mundo viria a conhecer como Modigliani, e que os Franceses conheciam apenas por "Modi" (que pronunciado em Francês soa a "maudit", ou seja, "maldito"), tem a sua única exposição a solo. Em Paris. Abre e fecha no mesmo dia. Havia quem interpretasse estes nús como um renascimento da fina beleza clássica, havia quem interpretasse que Modi era somente um Italiano bêbado e decadente a provocar os outros para conseguir notoriedade. A polícia, alertada por uma denúncia anónima, considera as sete telas de nús femininos como obscenidade e manda fechar o circo. Paris, talvez a cidade mais avançada do seu tempo, onde tinham vivido, viviam e haveriam de viver alguns dos melhores e mais geniais pintores da humanidade não estava ainda preparada para as ousadias de Amadeo Modigliani. Em sua defesa, há a dizer que - já na altura - muitos parisienses discordaram da medida de censura e não faltam relatos de que as obras continuaram a ser exibidas noutros locais à porta fechada. Acresce que pelo menos uma das obras em causa - "Nu feminin", no topo - haveria de ser vendida em 1999 por mais de 16 milhões de dólares, o que prova que Modi, afogado numa saúde frágil com sabor a absinto, sem que houvesse de sobreviver mais de 3 anos à própria tela morrendo aos 35, estava por fim no caminho certo. A arte precisava de novas direcções. Ontem como hoje, precisamos de quem pense diferente. As conquistas pela liberdade, até a artística, nunca estão terminadas. Ou apenas nos resta repetir e recuar. No final da Segunda Guerra Mundial, Churchill afirmou a propósito de todos os que morreram em nome de um Mundo desinfectado de Nazis e do imperialismo Japonês: "Nunca tantos deveram tanto a tão poucos". A equação, para mim, é a mesma. Não podemos prescindir dos poucos que temos.

« Le bonheur est un ange au visage grave. »

Amedeo Modigliani