O mercado à noite








Primeiro Sábado em muitos meses que estou solteiro, é óbvio que vou sair. Eu sempre gostei da noite, eu preciso de algumas coisas que a noite me dá, como por exemplo ver amigos, e como por exemplo ver as pessoas a uma luz diferente das pessoas que são durante a semanas. Ligo ao Johnny John, combinamos tudo. Antes de sair de casa faço algo que há muito não fazia, abro a gaveta dos preservativos e ponho uns quantos ao bolso.

O Johnny John é um gajo engraçado. Foi modelo, foi duplo de cinema no estrangeiro e agora anda a tentar abrir um Wine Bar. Dá-se também o caso de andar enrolado com uma estrela da televisão nacional. Tem muito sucesso com o sucesso feminino, ao contrário de mim que sou um gajo banal de sucessos ocasionais. Apesar disso, fala-me da minha última namorada que ele conheceu de raspão e tenta ser simpático:

- Era gira, mas gira a sério era a outra que tu tiveste aqui há uns tempos ...

(yes John, mas prefiro não comentar. Sempre achei triste que as pessoas na sociedade em que vivemos prefiram resumir as relações de fora para dentro em apenas "alguém ser ou não giro". Se eu fosse falar na pressão extra que alguém ser giro traz ao casal ... Anyway, como disse, do meu lado foram breves momentos de sorte, as pessoas que me calharam ter vieram mais por eu ser uma companhia agradável e bem humorada, suponho. Um gajo correcto, vá, pelo menos nalguns assuntos.)

Vamos tomar um copo no Irish Pub e trocamos olhares com três mulheres animadas e muito bem produzidas.

Johnny John - Aposto que são Brasileiras. De visita aqui a Lisboa. Vais ver.

Começamos a falar com uma delas e de facto sai brazuca. Johnny John sabe muito.

Johnny John - Não te disse? São brazucas e "patricinhas".

Pulha - Como é que sabes?

Johnny John - Porque têm os dentes todos.

(ahahahahhaha rimo-nos como alarves. Os homens quando estão juntos conseguem ser mais retardados do que as mulheres a falar da Casa dos Segredos, ou do que o Rui Santos na SIC a começar as suas análises futebolísticas com o "Tenho vindo a alertar" ...).

A seguir vamos tomar um copo ao Bleza (para quem não sabe, uma das melhores discos Afro em Lisboa). Quando chegamos ao balcão para pedir uma bebida - e o balcão do Bleza é especialmente comprido - 5 suecas na casa dos trinta colocam-se exactamente ao nosso lado, por entre risadas. A seguir vamos para a pista e elas colocam-se de novo exactamente ao nosso lado.

Johnny John - Estás a ver o que eu estou a ver. Vês a forma como tiram as camisolas delas (Johnny John não prescinde de interpretar os sinais)? É exacatamente como eu faço quando quero mostrar os braços musculados. Elas querem mostrar os braços e mostrar que estão à vontade. Aquela está a rir-se e ninguém está a falar com ela. É tudo estudado. Porque é que achas que elas estão mesmo ao nosso lado numa discoteca inteira?

Pulha - Não sei, pá. Talvez porque sejamos os únicos brancos.

(mais umas palhaçadas destas, os Bushmills a bater, gargalhadas altas, a banda lá ao fundo a tocar animada, vista para a Tejo, convites para dançarmos com alguém, coisas dessas e venho-me embora)

Johnny John - Estás a brincar comigo! Vais-te embora agora? Deves ser parvo?

Pulha - Tonight is not the night, John.
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