Ás vezes fico triste. Fico triste e sei que posso dar a essa tristeza um quadrilhão de nomes, desculpas, porquês. É o fim da escola, é o não passar no vestibular, é o pai, a mãe, a tpm e o falatório do mundo em volta. Porque o mundo, olha o mundo... é de uma poluição sonora horrenda! Eles gritam, cantam, batem, martelam, perfuram, espremem, cortam, lixam, morrem. Morrer é silencioso. Imagino que quando a gente morre o espetáculo tem tempo diferente pra gente, uma perspectiva quietona, lerdona, tipo novela. Acho que morri. Morro muitas vezes, mas morro sempre que vejo que não há desculpas pra esse nózinho na garganta doído que aparece de repente. É uma tristezinha que tem seus tipos, e esses tipos me estapeiam na cara atônita, na cara cansada, com a face arruinada, calada, morta.
Essa minha imensa mania de ser eu me cansa. Tão mais fácil ser outro. Outras preocupações, outras pessoas, outras vidas, afazeres. Se ocupada, atolada. Se vazia, entediada. Um escritor, cujo nome não me lembro, muito menos a citação exata, disse isso. É preciso ter o amargo para valorizar o doce, e vice-e-versa. É essa nossa eterna mania de pôr a felicidade inalcançavelmente longe do toque. Tem outro poeta que disse isso, Vicente de Carvalho: