Perninhas de Coelho com Alecrim e Tomilho



Durante a minha infância e inicio de adolescência sempre convivi com animais de criação. Os meus avós paternos eram agricultores, e o meu avô era inclusivamente produtor de vinho, e lembro-me bem da época das vindimas. Das colheitas do milho e da apanha das batatas. Vários trabalhadores que lá andavam às suas ordens, muito movimento e animação. Apesar de vivermos na cidade, de 15 em 15 dias íamos à aldeia, a casa dos meus avós. Havia uma horta imensa que no verão era deslumbrante: as “tendinhas” feitas com as canas e carregadas de feijão verde. Os tomateiros, os pimentos e as alfaces. Os kiwis que eram aos milhares que nem se viam as folhas e os maracujás também. Lembro-me de ir apanhar alfaces para comermos minutos depois ao almoço. E de morangos que o meu avô guardava para nós apanharmos, e árvores de fruto, nogueiras… e depois os campos do milho, das batatas e as vinhas. Lembro-me da casa de madeira e do alambique onde faziam aguardente e ainda hoje recordo o cheiro e a escuridão desse local… E sempre convivi com animais de criação. Havia um espaço enorme e com dezenas de galinhas que adorava alimentar. Dentro desse espaço havia ainda pocilgas e porcos, e um pequeno curral onde havia sempre uma ou duas vacas e pelo menos uma cabra que habitava com as vacas. lembro-me de ver o meu avô a ordenhar a cabra e a beber o leite dela. E sei que adorava ir dar água às vaquinhas que eu insistia em chamar de Mimosa. Mais uma vez o cheiro dos currais dos animais e aquele ambiente quente são algo que me vou lembrar para sempre. E também havia coelhos. Coelhos que quando eram pequeninos andavam ao nosso colo, enfiados no chapéu azul da minha avó. Cresci a saber que aqueles animais que todos acarinhávamos, serviam para nos alimentar. Enquanto ali viviam eram felizes. Eram bem tratados, alimentados. Viviam em condições, ao ar livre e com comida boa, entre aparas para os pitos e para os coelhos, lavagem com abóbora para os porcos, erva para a vaca. Eram verdadeiramente amados por quem os criava. Recebiam festas e mimos. Mas todos sabíamos que um dia chegaria o dia que acabariam no nosso prato. Sempre soube isso desde muito miúda, e confesso que nunca me chocou, nem nunca me fez pensar em crueldade. E em casa do meu avô havia a matança do porco, e lembro-me de ver a minha avó a matar os frangos e a depená-los. Era normal. E sempre me pareceu normal tratar bem os animais que iriam servir para nos alimentar. E nunca tive pena de comer os coelhinhos que antes tinham andado a meu colo, ou os pintaínhos com que tinha brincado na casa do forno. E isso faz-me respeita o que vem parar ao meu prato. De verdadeiramente odiar deitar comida fora, e de pensar que aquele animal morreu para eu ter alimento e que devo respeitar todos esses alimentos utilizando-os ao máximo. E é também por isso que ainda hoje, nas escolhas que faço nos supermercados ou talhos gosto de poder escolher animais que crescem de forma mais “livre”, natural e em pastos ou ao ar livre. Porque quero pensar que viveram uma vida minimamente digna antes de virem parar ao meu prato. Que foram respeitados e que não viveram enjaulados, em espaços apertados, em más condições e sem verem a luz do sol. Não me passa pela cabeça tornar-me vegetariana para assim poder evitar este tipo de crueldade animal (sem nada contra ou nenhum juízo de valor), mas fazer melhores escolhas e exigir isso enquanto consumidora é já uma forma de combater quem explora desta forma os animais. Podemos sempre fazer melhores escolhas e sermos consumidores mais responsáveis. Eu tento ser todos os dias.

Ingredientes para 2 pessoas:
4 perninhas ou mãozinhas de coelho sal e pimenta q.b. sumo de 1/2 limão 50ml de vinho branco 2 dentes de alho 1 folha de louro 1 colher de chá de colorau 1 colher de chá de tomilho seco 1 pé de alecrim fresco 1 pé de tomilho fresco 1 cebola azeite q.b.
Preparação:
Tempere o coelho com sal e pimenta, o colorau, a folha de louro, o tomilho seco os dentes de alho em rodelas, o vinho branco e o sumo de limão. Deixe a marinar algumas horas. Leve depois ao lume uma frigideira com um pouco de azeite - não é preciso muito, cerca de 50ml - e deixe aquecer. Junte a cebola previamente cortada em rodelas finas e deixe começar a fritar. Junte depois o coelho e deixe fritar em lume brando até que o coelho fique dourado, virando-o de vez em quando. Quando as perninhas estiverem bem fritas, acrescente a marinhada, o tomilho e o alecrim frescos e deixe levantar fervura. Reduza o lume para o mínimo e deixe fervilhar até o molho ter reduzido. Sirva com umas batatas assadas ou arroz e legumes cozidos.

Bom Apetite!
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