Sentei-me aqui, nesse fim de tarde, nessa mesa de café a esquerda de minhas ousadias para concluir algumas linhas. Queria escrever-te… há dias que esse desejo habita minha pele, mas aprendi já faz algum tempo que é preciso respeitar o momento e esperar por ele sem ânsia, embora nem sempre seja fácil.
Mas quando comecei a pensar em você, vislumbrando nossos encontros, desde o primeiro… o belo ragazzo que atende esta mesa, trouxe minha xícara de café, com cioccolata e crema… e, biscoitos de gengibre. Me dispersei completamente… respirei fundo e para dentro foi também o aroma do café… esse articulador de memórias.
Eu nunca soube ao certo se gosto de fato da bebida ou do aroma… sou uma pessoa sensorial. Os cheiros animam o meu paladar…
E quando busco na memória uma espécie de resposta… me deparo com novos questionamentos que não me orientam, pelo contrário.
Eu gosto ter os grãos em minhas mãos para macerá-los e depois “saborear” o aroma até cessá-lo… é um hábito que aprendi com o Nono, na infância. Foi com ele também que aprendi a sorver o líquido negro: junto a mesa… numa espécie de ritual.
Era preciso primeiro, observar o líquido quente ser derramado com calma junto a xícara. Os olhos se fechavam para a vida, a realidade e também para os sonhos. Deveria ser apenas a matéria diante de sua essência: o café. O primeiro contato a ser feito era com o aroma. Depois, a xícara deveria adormecer entre as mãos… para que o calor se espalhasse nessa união sagrada. E novamente o contato com o aroma… respirava-se fundo, como se fizéssemos uma prece e pronto: levava-se para dentro o café, num gole pequeno porque os excessos são imperdoáveis! O sabor se diluía rapidamente porque o café forte — como gosto — faz salivar…
E enquanto repetia esse velho e delicioso ritual que sempre faz a menina que vive em mim… sorrir! Me lembrei de seu livro e pensei que seria lúdico — uma coisa para a alma — sentar-me aqui: com linhas, agulhas e as folhas ainda soltas em mãos…
Eu espalharia tudo sobre a mesa e depois de tocar cada item com os olhos… começaria a costurá-lo, como se estivesse a saborear o mais preciso dos cafés…
Bacio
L.